Um Certo Sacrifício

Ontem, entre muitas outras coisas (aproveitáveis e não), foi dia de falar do musical Hair (que volta aos palcos) e jantar comentando sobre o assunto Madonna.

As duas coisas juntas me lembraram o infame filme “Um Certo Sacrifício” (A Certain Sacrifice) com a participação de uma (ninguém sabia quem era) Madonna de 1979.

Antes de eu continuar, um rápido trechinho com uma cena onde ela canta descontraidamente (uma música de Hair, Let the Sunshine In) enquanto passeia de limousine com amigos. Ninguém naquele momento poderia imaginar que estavam ouvindo a voz daquela que em três anos se tornaria a maior popstar do mundo.

Pois bem, conheci o filme há dois anos quando um amigo tinha comentado sobre ele e eu sequer sabia da sua existência. Depois consegui assistí-lo, após baixar da internet.

O filme é tudo de ruim. Produção pobre, atores péssimos (incluindo Madonna) e um roteiro medonho. Ed Wood ficaria preocupado em perder seu posto de cineasta trash.

Na Nova York de 1979, após retornar de Paris durante um período como cantora e dançarina de Patrick Hernandez (Born to Be Alive), Madonna estava solta e sem saber o que fazer da vida quando encontrou um anúncio onde procuravam uma atriz de personalidade forte para um filme e que não não se importasse em trabalhar de graça. E lá foi ela. Assim, acabou ganhando o papel de Bruna, uma dominadora sexual que vivia vagando pela cidade, até que um dia encontrou um rapaz certinho e começarem a namorar. No meio disso, cenas de estupro, músicas new wave, ritual satânico, escravos sexuais (um homem, uma mulher e um travesti) e… interpretações exageradas e amadoras.

O diretor Stephen Lewicki (que só fez este filme, até onde sei) ficou sem grana e não conseguiu terminar a obra. Em 1985, finalmente ele conseguiu lançar “Um Certo Sacrifício” sob muitas tentativas judiciais de Madonna para impedir e querendo comprar os direitos, afinal ela já havia se tornado relativamente famosa e tinha um certo hit chamado “Holiday” no topo das paradas. Lewicki se negou e Madonna perdeu nos tribunais.

O filme não tem nada de mais, além da cena em que ela aparece de topless rapidamente. Há quem diga que o problema está na cena de estupro, uma vez que, antes de fazer o filme, ela havia sido vítima de abuso sexual quando um negro forte, alto e portando uma faca a levou até um telhado com ele e a obrigou fazer sexo oral para, em seguida, fugir deixando Madonna sozinha e aos prantos.

Só para pegar um pouco mais leve com a Madonna sobre suas atuações, devo dizer que houve um momento em que ela pode mostrar bem seu lado atriz (de verdade): Olhos de Serpente (Dangerous Game) e alguma coisa em Corpo em Evidência (Body of Evidence), ambos de 1993. – Antes e depois disso, nada mais. – Evita não assisti até hoje e não tenho como avaliar. E dá-lhe troféu Framboesa de Ouro. Será que sua interpretação mais convincente em Olhos de Serpente teria sido gerada devido lembranças do abuso sexual vivido no passado?

De qualquer forma “Um Certo Sacrifício” tem seu valor histórico, seja pela curiosa biografia de Madonna, seja para mostrar o cenário de Nova York no final dos anos 70… É o que compensa aguentar 60 minutos de sacrifício… nosso.

Madonna, I still love you.

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