Quando as luzes se apagam

Houve uma época (bem antes da minha, devo salientar) que ir ao cinema era um happening, um evento elegante para pessoas idem e que acontecia dentro de teatros que eram verdadeiras obras de arte em arquitetura e decoração.

Apesar de hoje ser uma das coisas mais corriqueiras e menos glamurosas em termos de espaço de entretenimento, se enfiar num plex qualquer de shopping ainda oferece a sensação gostosa para relaxar e assistir a um bom filme.

Embora a maioria das pessoas não dê  a menor bola para detalhes da produção, sempre me atento à grife dos filmes, ou seja, a embalagem daquele “bombom” cuja abertura precede a revelação da delícia que está por vir. Falo das vinhetas de abertura dos estúdios.

São velhas conhecidas do público desde sempre e funcionam realmente como uma grife, um aval sobre o nível de qualidade dos filmes. Seja no cinema ou iniciando um DVD (ou Blu-Ray para os mais abastados), ela sempre está lá.

Antigamente, esta relação entre o público e as vinhetas de filmes parecia ser mais próxima. Lembro da minha avó e da minha mãe usando a comparação “parece o leão da Metro rugindo” para falar de uma pessoa zangada, que estava reclamando de algo. Há outra história sobre a vinheta da Condor Filmes, a distribuidora que anunciava filmes de segunda linha ou algum faroeste espaguete. A abertura mostrava o vôo de um condor e era de praxe que a platéia, formada por uma molecada, começasse a fazer barulho de “Xô!” ou a vaiar para espantar a ave, o que era seguido de gargalhadas, pois obviamente o bicho “obedecia”. Já em minhas lembranças de infância em preto e branco, a vinheta da Columbia Pictures no final, indicava que havia terminado “Os Três Patetas” ou algum filme chato, o que significava a chance de ver algum desenho ou seriado legal que viria depois.

Os estúdios ainda mantém suas vinhetas vivas, sempre repaginadas e até, muito comum, adaptadas ao clima de cada história.

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Twentieth Century-Fox

A Fox é uma corporação poderosa tanto do cinema quanto da TV. Criada em 1935, o estúdio sempre foi símbolo das melhores e mais revolucionárias produções. Lançou os filmes mais famosos de Marilyn Monroe e revolucionou a indústria com blockbusters como Star Wars, X-Men, Titanic e Avatar, além dos sucessos da TV The Simpsons, Planeta dos Macacos e Arquivo X . A introdução da Fox e sua fanfarra são praticamente marcas registradas do próprio cinema.

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DreamWorks – SKG

É um estúdio criado por Steven Spielberg, pelo ex-diretor da Disney Jeffrey Katzenberg e pelo produtor musical David Geffen. Por isso as iniciais SKG. Realiza produções no campo da animação, da TV e do cinema, muitas vezes em co-produção com outros grandes estúdios.

A vinheta da DreamWorks foi criada pelo artista Robert Hunt, cuja ideia original era a de um fundo de nuvens pintado a mão com um homem sentado na lua, pescando. Hunt resolveu apresentar uma ideia alternativa usando a figura de um menino, a qual Spielberg gostou e aprovou. O menino em questão é William, o filho de Hunt.

Robert Hunt e o filho William.

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Universal Pictures

Durante muito tempo a Universal era marca registrada de filmes de terror com monstros como Frankenstein, Múmias e vampiros protagonizados por Boris Karloff e Bela Lugosi. Isso foi na década de 1930. Anos depois o estúdio lançou muitas produções boas e outras de gosto duvidoso, mas todas alcançando sucesso que vão desde E.T., De Volta para o Futuro, O Exterminador do Futuro e Jurassic Park até Xanadu, O Brinquedo Assassino, American Pie e Velozes e Furiosos. Há para todos os gostos. No campo da TV, a vinheta marca a abertura de desenhos do Pica-Pau e do sitcom Will & Grace. É uma das vinhetas mais frequentes nas telinhas e telonas.

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Vinheta comemorativa de 75 anos – 1990

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Metro Goldwyn Mayer

A MGM foi responsável por grandes clássicos em technicolor como O Mágico de Oz, …E o Vento Levou, popularizando estrelas como Greta Garbo, Vivien LeighJoan Crawford e Judy Garland, sempre sob o comando do chefão Louis B. Mayer.

O leão foi uma ideia tirada por um publicitário em 1924, da universidade onde estudou e onde havia um time de atletas chamado “The Lions”. Desde então, muitos foram os leões que assumiram o papel de “Leo, o leão” na vinheta do estúdio e que o exibia envolto por um selo com o slogan em latim “Ars Gratia Artis” (Arte pela Arte). Como som, apenas um poderoso rugido. Entre os felinos famosos estavam Slats, Jackie, Tanner e Leo (o leão eternizado desde 1957 até hoje).

Slats, o primeiro leão

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Paramount Pictures

A Paramount assina grandes produções desde 1912 quando ainda apresentava os cartuns de Betty Boop e Popeye ao público. De lá pra cá, os hits como Bonequinha de Luxo, Guerra dos Mundos (as duas versões), Os Embalos de Sábado a Noite, Grease, Flashdance, Coração Valente, O Bebê de Rosemary, Ghost, Indiana Jones, Forrest Gump, Sexta-feira 13 e Transformers entre outros, fizeram do estúdio um dos maiores criadores de sucessos.

Sua vinheta não possui música ou som e quando acontece é o som do próprio filme em off se iniciando. O logo, chamado de “majestic mountain“, exibia 24 estrelas que representavam os 24 astros contratados pelo estúdio na época de sua criação. Hoje são 22 estrelas e parece não estar mais atrelado ao número de grandes atores contratados. A montanha no primeiro logo era baseada na montanha Ben Lomond que fica em Utah, nos Estados Unidos. Uma mudança fez surgir a nova montanha a partir de 1952, que continua até hoje e julga-se tratar da montanha Artesonraju que fica no Perú. Os filmes de Indiana Jones, por exemplo, tem a tradição de criar uma fusão da montanha no logo com a primeira imagem similar de algum elemento de cena.

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As tradicionais fusões nos filmes de Indiana Jones

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Columbia Pictures

Se você assistiu Contatos Imediatos do Terceiro Grau, A Lagoa Azul, Os Caça-Fantasmas, Homens de Preto, Homem Aranha, As Panteras (o filme), Código Da Vinci, Casino Royale (parceria com MGM) ou 2012, provavelmente viu a vinheta da Columbia abrindo o filme.

A famosa “Dama da Columbia” que lembra a Estátua da Liberdade, existe desde 1924 e houve uma época em que várias modelos se intitulavam ser a modelo da Dama da Columbia. Mas, em 1993 a versão mais atual foi criada tendo como modelo a dona de casa Jenny Joseph, cujo rosto sofreu algumas mudanças em computação gráfica pelo artista responsável Michael J. Deas.

Jenny Joseph posa como Dama da Columbia

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Warner Bros

No seu início, a Warner ficou marcada por ter lançado o primeiro filme falado. Foi The Jazz Singer com Al Johnson, o que causou grande sensação na época.

Com o passar dos anos o estúdio se especializou em filmes de gangsters e naqueles produzidos para sua maior estrela: Bette Davis. Nos anos 30 surgiram os primeiros desenhos da Warner, Looney Tunes e Merrie Melodies. Aos poucos, personagens como Pernalonga (Bugs Bunny), Patolino (Daffy Duck), Frajola (Sylvester) e Piu-Piu (Tweety) acabaram se tornando símbolos da empresa.

No período de plena guerra, foram produzidos diversos filmes neste ambiente negro da história, entre eles Casablanca cujo famoso tema “As Time Goes By” serve de trilha para a vinheta atual.

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Um exemplo de adaptação conforme o tema do filme, muito comum hoje.

2 Respostas to “Quando as luzes se apagam”

  1. Roberto Ribeiro Lamounier Says:

    Se você se acha tão entendido na Historia da Condor Filmes, saiba que a Condor recebeu O premio por Macunaíma além de Trazer Apocalipse Now para o Brasil, além de vários anos ser convidado para o Festival de Cannes, com como você diz filminhos western espaguete e franceses e espanhóis, vá se informar

    • Roberto,
      De forma alguma me julgo “tão” entendido na Condor. Nem mesmo de cinema. Sou apenas um apreciador, assim como imagino que você também seja. Também a intenção não foi mencionar de forma pejorativa. Era mais para lembrar as coisas boas de quando estamos na sala escura do cinema. Cheguei a pegar filmes com distribuição da Condor, acredito que no final dos 80. Fico feliz em saber dos prêmios, Cannes e tudo. Mas, era uma característica da distribuidora focar nos filmes que hoje vejo no Canal Brasil. Basta ver a relação do imdb. E, acredite, não vejo nenhum desmerecimento aí. É um estilo. Em nenhum momento me referi a nada como “filminho” e também gosto do Western Espaguete, hoje tão excelentemente resgatado por Tarantino.

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